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Quer mais tempo, dinheiro e saúde? Vá de bike

Estudo inédito aponta que ciclistas economizam até 451 reais ao mês, têm 90 minutos livres a mais por semana e são menos estressados.

Que diferença faria para você ter 451 reais a mais na conta todo fim do mês? Do que você abriria mão para ter 90 minutos livres a mais toda semana? Como ajudar a reduzir em até 10% as emissões de dióxido de carbono (CO2) na cidade de São Paulo? A resposta para estas perguntas é pedalável. Para milhões de paulistanos, deixar o carro em casa ou trocar o ônibus pela bicicleta oferece benefícios financeiros e mais tempo para o lazer – além dos ganhos para a saúde. Os dados fazem parte do estudo Impacto Social do Uso da Bicicleta em São Paulo, realizado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), com patrocínio do banco Itaú, que opera um dos sistemas de aluguel de bicicletas da capital.

O estudo é considerado inédito por mensurar pela primeira vez o impacto da bicicleta “como elemento transformador da realidade social em três áreas centrais (…) Meio Ambiente, Saúde e Economia”. Ele usa como base o conceito de viagens pedaláveis, ou seja, sem um alto grau de dificuldade para serem feitas de bike. São considerados pedaláveis os deslocamentos de até 8 km de distância realizados entre 6h e 20h por pessoas com até 50 anos. Segundo o documento, do total de viagens realizadas de ônibus diariamente em São Paulo, 38% delas poderiam ser feitas de bicicleta (aproximadamente 3 milhões de viagens por dia) por se encaixarem neste perfil acima. Já dos trajetos feitos de carro, 43% poderiam ser realizados sem dificuldade sobre duas rodas. “De acordo com essa perspectiva, 42% das viagens poderiam ser realizadas de bicicleta, sendo que mais de um terço do total de viagens seria facilmente pedalável”, diz o texto.

Para as pessoas cujos deslocamentos se enquadram nesse perfil, a economia mensal média seria de 138 reais para quem usa ônibus e 451 reais para que usa automóvel. Estes valores foram calculados com base no valor da tarifa à época do estudo (3,80 reais) multiplicada por 20 dias úteis, e do gasto mensal com automóvel no mesmo período.

Mas a economia financeira não é o único benefício. O estudo estipula que 45% das viagens feitas de ônibus que poderiam ser realizadas de bike (consideradas pedaláveis) seriam mais rápidas feitas sobre duas rodas. “Estas pessoas economizariam 19 minutos por dia”, diz o documento. Este tempo equivale a mais de seis horas livres por mês. Para as viagens pedaláveis de carro, 26% delas seriam mais rápidas de bike: economia de tempo diária de 9 minutos.

O analista de marketing Guilherme Henrique Cardoso, 28, foi radical, e em meados de 2017 vendeu seu carro. Com o dinheiro comprou uma bicicleta e passou a usá-la, junto com o transporte coletivo, para ir trabalhar no dia a dia. “Agora consigo usar a grana de combustível em outras coisas. No meu planejamento financeiro anual já não considero mais o IPVA, seguro e revisão… Vender o carro me deu uma chance de fazer algumas coisas que eu estava postergando: voltei a estudar e comecei a fazer terapia”, diz.

Alguns dos benefícios sentidos por Cardoso, no entanto, não cabem no bolso. “O grande ponto para mim é conseguir olhar ao meu redor e sair da redoma em que o carro te coloca. Hoje eu consigo ver a cidade, descobrir lugares e ver pessoas diferentes. Eu sempre chego mais feliz no trabalho, porque no tempo em que eu estaria parado no trânsito agora estou vendo um monte de coisa que não via”, afirma. O sentimento do jovem não é exceção entre ciclistas. De acordo com o relatório do Cebrap, quem vai de bicicleta fica stressado com menos frequência no deslocamento (14% ante 36% dos não ciclistas), sente menos desconforto (14% ante 35%) e sente mais prazer ao circular pela cidade (45% contra 18%).

O estudo afirma que ciclistas tendem a ter uma vivência mais positiva e intensa da cidade e dos espaços públicos. “Enquanto no grupo de ciclistas cerca de 80% vão, pelo menos uma vez ao mês, a parques, praças e feiras ao ar livre, na população paulistana,essa proporção não chega a 60%”, afirma. Além disso, “mais de 75% dos ciclistas costumam passear ou fazer atividades físicas em ruas ou bairros de que gostam. Entre os paulistanos,essa proporção não chega a 50%”.

Com relação ao sentimento de insegurança durante o deslocamento, ciclistas tendem a se sentir menos inseguros (48%) do que quem anda de carro ou ônibus (60%). O medo de acidentes de quem vai de bike, no entanto, é maior: 45% ante 41%.

O meio ambiente também agradece: se todas estas viagens pedaláveis fossem de fato feitas de bike haveria uma redução de 8% nas emissões de CO2 por parte dos ônibus e 10% dos automóveis, tendo em vista que a magrela não polui. Apesar de todos estes possíveis benefícios, apenas 2% do total de viagens em São Paulo são feitas de bicicleta. O ônibus é o modal favorito do paulistano, responsável por 38% dos itinerários.

Benefícios também para o patrão e para os cofres públicos

Se para o trabalhador o uso da bicicleta pode significar mais saúde, economia e tempo livre, o patrão também sai ganhando. Segundo o estudo, “há correlação entre tempo menor de viagem nos deslocamentos diários e aumento de produtividade”. Este aumento levaria a uma “redução do preço dos bens compostos, o que afetaria positivamente a renda regional real”. Com isso, as famílias “aumentam sua renda real, passando a dispor de maiores possibilidades de consumo”.

O relatório aponta que cada pessoa que deixa o carro para ir ao trabalho de bicicleta gastando menos tempo para isso representaria um incremento de 12 centavos por dia no Produto Interno Bruto Municipal. Já um usuário de ônibus que usa a bike para o trabalho aumentaria o PIB em 25 centavos por dia. No total, caso todas as pessoas que andam de ônibus ou carro e fazem trajetos inferiores a 8 km usassem a magrela gastando menos tempo, o incremento do PIB superaria 600 milhões de reais nos próximos três anos.

Além do PIB, o aumento de ciclistas também levaria a uma economia de 34 milhões de reais no Sistema Único de Saúde. Para chegar a esta conclusão, o estudo traçou um perfil das atividades físicas realizadas pelos ciclistas. Enquanto 48% deles são regularmente ativos, exercitando-se por ao menos 20 minutos ao dia três vezes por semana, este número cai para 17% entre os não ciclistas. Logo, caso a população em geral aderisse a este perfil ativo o número de doenças cardiovasculares e circulatórias cairia, provocando uma economia para os cofres públicos na área de Saúde.

O estudo conclui: “A bicicleta tem potencial para produzir impactos extremamente positivos para os habitantes individualmente, bem como para a cidade de modo geral. Na sua dimensão individual, pode produzir uma vivência mais qualificada da cidade, uma apropriação do espaço público mais efetiva por parte da população, bem como uma sensação de segurança maior.”. Talvez seja hora de você ver no Google Maps se o seu trajeto diário é pedalável.

Fonte: El Pais